quinta-feira, 15 de novembro de 2012

As estórias do seu Pedro

O dia de ontem foi um dos melhores que eu passei por estas bandas mineiras.
Primeiramente não choveu, a chuva veio quando estávamos no carro retornando e bem branda.
Segundamente, fomos fazer uma rota  do Caminho do Diamante, em direção a São João da Chapada, passando por um vilarejo chamado Sopa, isso mesmo, vai ver era lá que os tropeiros paravam para uma sopa, não sei, estou só conjecturando. Por fim chegamos a Quartel de Indaiá (ou seria (Quartéis de Indaiá), seja como for, foi o ponto alto do dia.
Na saída para Quartel de Indaiá, paramos para almoçar na casa da Sra Nilza (na verdade o nome dela de registro é Nirza, o cartório errou - vai ver é o mesmo que registrou o nome do  Millôr Fernandes). Tudo acertado de véspera. Como não existe infraestrutura em São João da Chapada para receber turistas, são estas pessoas que nos acolhem.
O almoço era simplesmente delicioso. Comida caseira mesmo, arroz, feijão, macarrão, carne assada e ovo frito, este um pedido nosso, e de sobremesa, doce de leite caseiro. (no feijão ainda tinha uns torresmos caseiros e pele fresca de leitão)
Tudo isso, como de costume, feito em fogão de lenha, que aí é que entra o tempero especial.
Almoço concluído, papo com D. Nilza. Pessoa gentilíssima, marido dono de garimpo, empreendedora, quer fazer uma pousada no local, já recebe pessoas para dormir na casa dela.
Nos contou que há uns 5 ou 6 anos, quando o IEF (Instituto Estadual de Floresta) mais o IBAMA, proibiram os garimpos, perto de 138 famílias ficaram sem sustento na região, levando alguns homens ao extremo de depressão e suicídio, complicado.
Partimos de São João rumo ao subdistrito de Quartel de Indaiá, localidade quilombola, preservada, não se pode vender nem as terras.
Mais uma vez contamos com a hospitalidade mineira, que é incomparavelmente a melhor deste país, recebendo todas as informações que precisávamos.
Como as fotos são feitas no escuro, durante a tarde há uma prospecção de lugar.
Lugares escolhidos, vamos fazer hora, aí surge a figura do Sr. Pedro Ninfo dos Santos.
Procurávamos um bar para comprar água, quando nos indicaram o Sr. Pedro.
Assim que ele nos viu, na verdade, todo o vilarejo nos observou o tempo todo, 8 pessoas, armadas de equipamentos fotográficos, não é todo dia que aparece por lá.
Ao passarmos pela sua porta, o Sr. Pedro já veio conversando e nos oferecendo doce de leite, e que entrássemos na casa dele. Como todas as casas por aqui, impecável!
Prosa vai, prosa vem, Sr. Pedro nos contou a sua estória. 84 anos, 11 filhos, fazendeiro, dono de muitas casas em Quartel de Indaiá, tem uma fazenda onde passam 7 rios, filho médico no Rio de Janeiro e, quando jovem, foi jagunço de Lampião.
Pronto! Bastou isso para minha curiosidade ficar aguçada.
Perguntei se Lampião era aquilo mesmo, matador, bravo, ele disse que sim, mas que hoje em dia, mata-se muito mais do que naquela época.
Ele ficou só 2 meses porque não gostava muito dessa matança, e disse isso para Lampião que, mesmo querendo que ele ficasse, liberou ele para voltar para casa.
Foram muitas estórias, portão do terreno em frente aberto para que levássemos o quanto aguentássemos de jabuticaba, bar aberto, vem cerveja, vem cachaça, nos despedimos e fomos ao trabalho.
Foi um dia especialíssimo, inesquecível para mim. Quem tiver oportunidade, não deixe de conhecer estes interiores brasileiros, a essência da generosidade do brasileiro está aqui, é com eles que aprendemos a ver a vida passar, com tranquilidade e simplicidade.
Espero novas aventuras tão boas quanto, para os próximos dias, mas, esta em especial, ficará para sempre como uma das mais especiais.
Até!

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